terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Reflexões numa tarde de chuva e Radiohead...








Chuva. Radiohead. Essa página em branco... Quero enchê-la... Como a chuva enche os tanques e rios, trazendo vida nova e esperança para aqueles povos tão sofridos do nosso sertão, eu quero me encher de esperança... Esperança que vem do sonho, do medo, da dor, do desespero, da busca, do encontro tão esperado. O que a chuva traz consigo de poético, sublime e misterioso? Não sei! Só sei que no meio dessa tarde chuvosa de carnaval, eu me encho de mim mesmo. De tudo o que cerca o meu mundo... Dos livros, dos discos, dos amigos, das coisas pequenas, da beleza dessa tristeza, do calor dessa sensibilidade, do acalento de uma canção. Por isso resolvi tirar a tarde para repensar (de novo!) a vida. Esses “caminhos que ligam e afastam, essas curvas que abrem pro sol”, (valeu Edizero!) que mostram não o desconhecido, mas que apresentam uma nova perspectiva para o velho, tornando-o novo de novo. Como um sol que sempre solitário no horizonte, não se sente sozinho, pela presença magnífica de Deus, que o inspira a oferecer o seu brilho todas as manhãs.
E aqui estou eu, tendo como trilha sonora o disco “The Bends”, do Radiohead. Incrível como uma banda pode me causar tantas sensações, que, de tão contraditórias entre si, acabam por criar em mim um sentido superior: a idéia dúbia de que tristeza e alegria convivem de forma tão harmoniosa que não existiriam sem o conflito... Passa a primeira faixa, “Planet Telex”, entra a faixa-título do disco. Os versos certeiros de “The Bends” atravessam minha alma como um punhal que não causa dor - “I wanna be part of the Human Race”(Eu quero ser parte da raça humana) - e parecem as melhores companhias das quais preciso, perfeitas na tarefa de me preparar para o poder hipnótico da melodia de “High and dry”, com trechos como “You broke another mirror, you turning into something you are not” (Você quebrou outro espelho, você está se transformando em algo que não é). Vem “Fake plastic trees”, com seu compasso alternado como um Carrossel, me fazendo lembrar dos altos e baixos da minha personalidade ao mesmo tempo em que me conduz de volta á sapiência pueril da infância... “If I could be who you wanted all the time” (Se eu pudesse ser quem você quis o tempo todo). Espero poder ser quem eu espero o tempo todo, porque apesar de tantas frustrações, me sinto bastante amado... Pela minha família, por vários amigos, pelas canções, pela oportunidade que tive de ter contato com a arte, pelas coisas que colaboram para a construção de um sentido maior á minha existência. “Nice Dream” no player não me deixa mentir: “They love me like I was a brother / They protect me / Listen to me... Nice Dream”.(Eles me amam como a um irmão / Eles me protegem / Me escutam... Sonho Bonito). “Everyday and everyhour... I wish that I was bullet proof” (Todo dia e todas as horas... eu queria ser á prova de balas) de “Bullet proof... I wish I was” não me causa tristeza, justamente por saber que não sou á prova de balas, á prova de mágoas, á prova de medos, pelo contrário, mas fico feliz por saber que existe alguém que me protege. Porque sei que se o mundo estiver ofuscado a ponto de eu não conseguir seguir o meu caminho, existe “... the sattelite that brings me home”, (o satélite que me guia para casa) verso da canção “Black Star”. O disco chega ao fim em “Fade out”, com sua melodia bela e arrastada, conduzindo ao encerramento, que pra mim representa na verdade um renascimento, uma nova perspectiva... a chuva parou, e estou disposto a seguir a frase que fecha a canção, e conseqüentemente o disco, que é: “immerse your soul in love" (afunde sua alma no amor).
Depois da chuva, da água que ajudou a encher tanques, rios, que se deslocou, representando a vida que sempre se renova, é em outra água que me proponho a mergulhar, afundando minha alma no amor, a água suprema, que cura todos os malefícios e renova toda a esperança em dias melhores, afinal como canta Lobão: “... uma chuva, uma tristeza podem ser uma beleza, e o frio, uma delicada forma de calor”.